Constituição da República Federativa do Brasil

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Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
IV - É LIVRE A MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO, sendo vedado o anonimato;
VI - É INVIOLÁVEL A LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA (...);
VIII - NINGUÉM SERÁ PRIVADO DE DIREITOS POR MOTIVO DE crença religiosa ou de CONVICÇÃO FILOSÓFICA ou política, (...);
IX - É LIVRE A EXPRESSÃO DA ATIVIDADE INTELECTUAL, artística, científica e de comunicação, INDEPENDENTEMENTE DE CENSURA OU LICENÇA

sábado, 11 de setembro de 2010

A CRISE FILOSÓFICA


    Pierre fougeyrollas, filósofo, sociólogo e antropólogo Frances (1923-2008)

A frase mencionada acima começa um livro de filosofia do segundo grau, já amarelado, de 1978 (TDF, trabalho dirigido de filosofia: por Mário Parisi e Gilberto Cotrim. 2.ed. São Paulo, Saraiva, 1978.) 
Não sei em que ano precisamente o autor da frase a criou, mas inserida num livro (já em 1978), percebe-se a intenção do autor em destacar a "crise de filosofia" vivenciada por ele e que ainda vivenciamos em nossa época.
Gostei bastante desse livro, ensina a filosofar, praticamente, de uma maneira bem acessível, além de nos mostrar o que é filosofia, os filósofos, termos e interpretações necessárias à pratica filosófica.
No dia 18 de junho de 2010, morreu José de Sousa Saramago, escritor, argumentista, jornalista, dramaturgo, contista, romancista e poeta português. No seu site, Saramago, em seu último post, no dia de sua morte, escreve o seguinte:


Tanto no texto de Saramago, datado de 11 de outubro de 2008 e publicado em seu site em 2010, quanto no livro de 1978, percebe-se a súplica por FILOSOFIA.
         No primeiro texto:
  • Jamais foi tão grave quanto hoje o perigo de uma extinção da filosofia.
  • Necessidade de um novo ímpeto filosófico
         No segundo:
  • Acho que na sociedade actual nos falta filosofia.
  • Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, não vamos a parte nenhuma.
Nosso intelecto está decrescendo? Esquecemos de usá-lo? Já nos transformamos em outro bicho de menor inteligência e já não somos mais humanos? Ainda podemos ser RACIONAIS? Ou só pensamos no aqui e agora levianamente? Afinal, somos bons ou maus? Mocinhos ou bandidos de nós mesmos?
Mesmo em meio a essa crise racional do ser humano, sempre haverá os que não gostam, não querem, ou tem preguiça de usar o intelecto elevado que todo ser humano possui.

Alegoria do “Rio do esquecimento" de Platão:
Platão narra que um pastor de nome “Er”, da região da Panfília, que morreu e foi levado para o reino dos mortos. Ali chegando, encontra as almas dos heróis gregos, de governantes, de artistas, de seus antepassados e amigos. Ali, as almas contemplam a verdade e possuem o conhecimento verdadeiro. Er fica sabendo que todas as almas renascem em outras vidas, para se purificarem de seus erros passados, até que não precisem voltar à Terra, permanecendo na eternidade.                      
Antes de voltar ao nosso mundo, as almas podem escolher a nova vida que terão. Algumas escolhem a vida de rei, outras a de guerreiro, outras a de comerciante rico, outras a de artista, outras a de sábio.
No caminho de retorno à Terra, as almas atravessam uma grande planície por onde corre um rio, o Lethé – que em grego quer dizer esquecimento – e bebem suas águas.                                    
As que bebem muito, esquecem toda a verdade que contemplaram. As que bebem pouco, quase não se esquecem do que conheceram. As que escolheram vida de rei, de guerreiro ou de comerciante rico, são as que mais bebem das águas do esquecimento. As que escolheram a sabedoria são as que menos bebem.                      
Assim, as primeiras dificilmente se lembrarão, na nova vida, da verdade que conheceram, enquanto as outras serão capazes de lembrar e ter sabedoria, usando a razão.

A alegoria platônica nos dá margem para muitas reflexões. Dentre elas, o motivo de muitos não usarem o seu elevado intelecto humano de maneira plena.
Por que não Filosofar? Saber o porquê. Questionar, raciocinar. Permitir juízos lógicos de determinadas idéias, fatos etc sem preconceitos e sem estar arraigados em senso comum e no politicamente correto.
Precisamos retomar a filosofia, não só em forma de história, apenas sabendo o que filósofos do passado pensavam, mas retomando o pensamento deles, refletindo sobre esses pensamentos e aplicando-os em nossa vidas. Necessitamos disso hoje, agora, antes que, tarde de mais, não haja mais volta.
Ou simplesmente viver, apenas viver, como se fôssemos um bicho qualquer, conduzido por instinto, sem filosofar...
Uns tomam a pílula azul e acreditam no que quiserem, outros tomam a vermelha e saberão até onde vai a toca do coelho.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O QUE É NECESSÁRIO PARA SER UM FILÓSOFO?


O Pensador
Primeiramente, qualquer pessoa pode ser um filósofo, conquanto que possua suas faculdades intelectuais plenamente em funcionamento, pois se a racionalidade é a primeira exigência para que alguém torne-se filósofo, e se todos os homens possuem racionalidade, logo todo ser humano podem tornar-se filósofo. Podemos construir o seguinte silogismo para demonstrar a universalidade do pensar filosófico:

          
Todo o ser humano é racional.
          Para alguém tornar-se um filósofo é necessário possuir racionalidade.
          Logo, todas as pessoas racionalmente normais podem ser filósofas.

Esta demonstração tão singela, segundo a qual toda a pessoa, independentemente de sua condição social e educacional, tem intrinsecamente o potencial para ser filósofo, não deve ser negligenciada, pois são justamente as pedras pequenas que nos fazem tropeçar, e são estas mesmas pedras que tem se acumulado no meio acadêmico e feito a muitos tropeçar.
     E quanto a formação em filosofia, é necessária para alguém tornar-se um filósofo? Se alguém pensa desta forma, está envolta, mesmo sem saber, num emaranhado de problemas lógicos. Raciocinemos:

Se alguém quer ser filósofo, necessariamente tem de ter uma educação formal em filosofia.
Sócrates, não teve diploma de filósofo, nem fez parte de uma escola de filosofia.
Logo, Sócrates não foi um filósofo.

Este silogismo é válido logicamente? Não é, pois, não obstante Sócrates não ter freqüentado formalmente uma escola de filosofia, ninguém de bom senso dirá, que o fundador na Moral, e do método científico não era um filósofo. Isto não quer dizer que Sócrates não tinha contato com o saber de sua época, ou nunca tivesse lido tratado algum de filosofia; o erro do raciocínio em apreço, compartilhado por muitos, é reduzir o filosofar a um treinamento numa instituição educacional qualquer.
 É necessário criar um sistema de filosofia, e possuir um reconhecimento canônico dado pelo tempo para que alguém possa ser considerado filósofo? Certamente não, talvez funcione desta forma entre os santos católicos, que por uma convenção clerical, foram classificados  como tais. Em filosofia não é assim. O filósofo não precisa de um aval do tempo ou de uma instituição, ou o reconhecimento de uma comunidade para ser filósofo. Façamos outro silogismo:

Para ser filósofo na acepção da palavra é necessário construir um sistema filosófico;  trabalhar como pesquisador  e escrever centenas de artigos científicos.
Sócrates, Diógenes Laércio, Buda( histórico),Confúcio, e Patch Adams e entre outros, nada escreveram nem construíram um sistema concatenado.
Logo, Sócrates, Diógenes Laércio, Buda, Confúcio e Patch Adams não foram filósofos.

Novamente, o silogismo configura-se  patentemente inválido. Sócrates, por exemplo, nunca escreveu coisa alguma, e não foi por descuido, ele tinha convicção de que sua filosofia perderia seu significado se fosse cristalizada num pergaminho qualquer, como podem agora, alguns “religiosos” da filosofia acadêmica afirmar, e não são poucos, que filósofos são aqueles que construíram um pensamento, postaram em palavras num sistema, e pelo crivo do tempo e reconhecimento geral foram classificados filósofos? Eu tenho vergonha da filosofia que é feita no meio acadêmico, principalmente nas universidades federais; já ouvi da boca de muitos professores, pobres miseráveis: “eu não sou filósofo, sou professor de filosofia, filósofo pra mim é o David Hume!” Pelo menos eles  tem a coragem de confessar que não são filósofos, mas veja o lado bom, se não sabem pensar por si mesmos e se apegam a forma canônica de   fazer filosofia, como o teólogo se apega ao texto de Santo Tomás como uma autoridade inquestionável, pelo menos não são hipócritas; estúpidos sinceros é que são!
Afinal de contas, o que é ser filósofo, se não é necessário possuir um conhecimento formal em filosofia, nem construir um sistema, nem ter o aval da “igreja filosófica” que lhe confere o título canônico  de  filósofo? Voltemos ao nosso símbolo ocidental da sabedoria humana, Aristóteles, para quem a filosofia nasce de um sentimento, não de uma formação acadêmica, ou de um título conferido por homens, conquanto, de qual sentimento fala Aristóteles? O sentimento necessário para nascer o filósofo em nós é o espanto, o espanto diante da realidade, o qual nos deve impulsionar a indagarmos o “por que?”, tal como “por que tudo isto está aí diante de mim?” Ou como Heidegger mais tarde dirá: “por que existe o ser ao invés do nada?”; ou “por que devo me basear numa autoridade da história da filosofia ao fazer um comentário numa aula de filosofia, se possuo racionalidade?” Aos professores das nossas academias, treinados em Kant, ou em Descartes, (se bem que até os macacos podem ser treinados), recomendo o novo nascimento, não o novo nascimento proposto pelo Senhor, ao  mestre da lei Nicodemos no capítulos 3 do quarto evangelho, o qual  não é muito diferente, quando disse: “ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer da água e do espírito”; eu diria aos “tais estúpidos sinceros”: “ ninguém pode se tornar filósofo se não nascer do espanto diante da realidade, e do pensar próprio!”